terça-feira, 29 de abril de 2008


ode à vale do rio doce

i chegô aqui uns homi
uns homi qui era qui nem nóis
mai num era ingual nóis

i chegaru falanu muito
i fazenu baruio tamém
i fôro intranu nus mato
i dizenu uas coisa

mai nóis num intindia
i eles falava i falava

entonci chegaro uas máquina
fazenu baruio i entranu nus mato
i os homi dizenu que era pru bem
i nóis num gostemu

foi aí eles quebraru tudo
os mato, as coisa, as pedra, os morro
inté qui us bicho fôro imbora
mai nóis fiquemu
i nóis num redemu pé

só qui us homi era muito
era muito mai qui nóis
i era tantos qui nem dava pá contá
mai inda nóis fiquemu

i fiquemu, i fiquemu, i fiquemu
inté qui um dia a terra já era pôca
i nóis já era pôco

i eles muito
i muitas máquina, i muito baruio, i mardadi


nóis num guentemu tanto sofrê
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
aí nóis cumemu eles

domingo, 27 de abril de 2008

parceria abençoada


eu que não pego cobreiro
de olho gordo passo longe
meu chaveiro é um pé de coelho
amuleto tenho aos montes

já fui benzido pelos santos do terreiro
fiz novena o ano inteiro
pra poder me proteger

não faço a barba desde que era menino
um conselho dos antigos
meu avô que disse assim

já me peguei até com santo Espedito
Cipriano, Benedito
que mais rogaram por mim

eu faço preçe eu rezo o terço eu vou a missa
e não fico na preguiça
Oh meu Deus, olhai por mim!

de são jorge eu tenho a espada quebradeira
e pra espantar a morte alfazema e alecrim

da sacristia a encruzilhada eu dei sinal
nunca desejei um mal

nem no início e nem no fim


musicada por Lucas e Mateus Palhares

sexta-feira, 25 de abril de 2008

texto para recital


A poesia de todo dia!
Ora bolas, nada de convencional. Nada de novo, não!
Ouvi oradores, acompanhei os filósofos e suas interpretações de si mesmos e do mundo que os cerca. Superficialidades em fim de um todo que aprofunda o nada além de medir, marcar e reduzir as simplórias explicações sentimentos.
Poetas não são como regras. Não sabem medir as palavras para além das frases. São como o vento gris das auroras imemoriais. Poesia não joga, não perde a partida, volta sem se despedir e ri ou chora dependendo da viagem.
O convencional não convence mais. Do lado de lá da palavra não há lugar para acomodações especulativas, não grita quem levanta a voz.
Dentro do sonho, quase em ritmo panfletário o ogro desdentado fuça restos. Revirando notícias repetidas, mastiga edições regurgita clássicos e comove-se com pedidos versados. O ogro vive dentro. Do lado meio da palavra. Na impura carne do verbo tatua senhas. Códigos delicados da escassa memória do belo. Nas rugas magníficas do tempo que não pára, trabalhadores da palavra limam, esmeram suas armas no vazio do papel, que aos pouco lidos tratam morte, mas que simbolizam aos cansados da luta mais vã, instrumentos de paz.

trago em mim dois de cada
algum menos assim
outro, um quase nada
feitos do mesmo verbo
a carne da mesma lavra
dos dois eu sou aquele
e ele essa mesma palavr

terça-feira, 22 de abril de 2008


você não veio e eu esperava assim
pensando só entre você e eu
do que restou desde o início e o fim
segui além qualquer caminho meu
andei demais levei a história em si
guardei o nó o resto se perdeu
sobrou um verso meio assim, assim
guardado em dó mas a rima não deu

sexta-feira, 18 de abril de 2008

impacto!


Já ouviram falar em crateras, não? Pois é. Segundo definição enciclopédica cratera é uma depressão provocada pelo impacto de um meteorito ou asteróide com a superfície dum planeta ou seus satélites ou; a abertura por onde um vulcão expele sua lava e gases. Também há registro de um povo homônimo que tem como característica a devoção de seus membros pela música.
No próximo sábado dia 26, teremos a oportunidade de ver não meteoritos ou asteróides, lava e gases, mas muito rock n' roll e vontade!
A banda do amigo Samuel, também conhecido como Samu-Astolfo, vai fazer a 1ª, (atenção), a 1ª apresentação da banda OSCRATERAS. O show vai ser uma espécie de "ensaio aberto", só pra esquentar.
A erupção mesmo anuncio em breve por aqui.
Fica o convite e a recomendação.
OSCRATERAS-DIA 26 DE ABRIL-BAR DO ZÉ MARIA-CATAS ALTAS

quinta-feira, 17 de abril de 2008

alguma coisa está fora da ordem

Uma nova ordem está mudando a cidade de Barão de Cocais, isso é fato. As alterações ocasionadas pela aculturação sofrida nos últimos anos com a chegada de trabalhadores das empreiteiras terceirizadas e outros visitantes que, com o tempo foram se avizinhando até fazer parte da comunidade, no que chegou a ser citada como a “segunda corrida do ouro”, (dessa, o minério), assustou, e fez a população despertar para necessidade de reafirmar a sua identidade cultural.
Conhecidamente um povo pacífico, os cocaienses viram-se abalados em sua tranqüilidade, característica de uma cidade com mais de 300 anos e alma peculiarmente interiorana.
Geograficamente bem situada no percurso da estrada real, timidamente começando a ser visitada por aqueles que buscam ares bucólicos e roteiros para prática alternativa do ecoturismo, Barão de Cocais, com seus pouco mais de 25 mil habitantes até então, viu a vida ficar mais corrida por estas bandas.
Contudo, sabendo-se também inevitável e necessário o crescimento, a população se viu as voltas com um grande problema: Como conciliar esse crescimento com a qualidade de vida e a afirmação de suas raízes?
Poder público, gestores administrativos, associações, representantes religiosos, entidades de ensino, estudantes, empresariado, artistas, cidadãos comuns, enfim, a sociedade vivencia uma constatação única: Conviver com a miscigenação cultural.
Mais gente significa maior crescimento econômico. Conseqüentemente, maior arrecadação significa mais investimentos, possibilidade de melhoria da qualidade de vida e em se tratando do aspecto cultural, mais opções de lazer e cultura para todo mundo. Bom, ao menos deveria, não é?
Investimentos e apoio a projetos e eventos culturais existem, não há como negar. Mas se pensarmos em números, na arrecadação pública que cresceu consideravelmente, no quanto as grandes empresas (principalmente as mineradoras), lucram e continuarão lucrando durante anos de exploração deste solo sabidamente rico e ainda, se pensarmos em como a população cresce desmedidamente, teremos um quadro em que é fácil perceber a necessidade de mais e maiores investimentos na área cultural. Seja ela captada na esfera municipal, estadual ou federal, através das leis de incentivo a cultura ou, até mesmo, apelando para a tão citada responsabilidade-social, principal bandeira das grandes empresas. O que fica claro é que muito mais pode ser feito.
Fala-se na parcela jovem que caminha às avessas dos valores apreendidos e que não tem outra opção senão consumir (-se) culturalmente apenas da programação da tv aberta, da sabatina nos bares e praças já saturados, das festas, (estas, em sua maioria, de cunho religioso) e quando muito, de um teatro regional (reconhecidamente bom), mas que não suprem a carência de uma população que quase dobrou em número de habitantes.
Neste ponto, podemos imaginar a longo prazo, que bagagem cultural e crítica sustentarão os mais jovens? Que legado, além do religioso, estarão herdando?
Criar uma conexão entre esta nova sociedade, as mudanças e a manutenção da identidade local está intimamente ligada a (como) conviver com todos esses fatores, extraindo deles o melhor do que pode existir nessa “mistura” de referências.
A reação contra tudo o que não esteja de acordo com o conceito de bem-viver vem, crescentemente, sendo afirmada, repassada e estabelecida como “trincheira”, que separa a visão do imprescindível crescimento da agressiva mudança dos valores sociais locais.
O que se pode citar, por outro lado, é aquilo que se tem feito/existe e merece reconhecimento, como as investidas da secretaria de cultura, que organiza e diversifica a cada ano (com a entrada da nova administração), o calendário cultural da cidade.
Seria o que poderíamos chamar de resgate cultural. Como por exemplo, o que foi visto na última edição da Festa dos Pés de Pomba, que conseguiu levar à parcela mais carente da população, assim como aos mais esclarecidos, apresentações artísticas de renome, oficinas realmente proveitosas, shows de primeira qualidade, conseguindo agradar a gregos e troianos. Ou ainda, outros projetos como a Orquestra de Flautas, 5ª sonora, Projeto Luthier, (também agregados à secretaria de cultura) muito bem inseridos à nova demanda social, mas, que ainda assim poderiam ser mais bem amparados se as empresas se disponibilizassem a apoiar.
Vale dizer ainda que essa configuração não significa uma idéia pré-estabelecida, não se atem a amarras e, menos ainda, pretende estabelecer-se como forma ou fôrma para a visão do que é ou não é afirmação de identidade cultural. Entende-se de modo a externar uma visão global do cenário vigente hoje, nos moldes do solo pé de pomba.
As percepções emolduram os fatos que urgem melhorias. Aqui foram retratadas no âmbito cultural. Panoramas melhores podem existir (?). O caminho mais curto então seria utilizar os mecanismos legais, como as citadas leis e fazer valer a vontade do povo que quer o desenvolvimento em vários aspectos.


O texto acima surgiu após uma conversa com a jornalista Sandra Cunha, que sugeriu que eu enviasse minhas possiveis críticas e sugestões para o jornal "Leia Mais", espécie de informativo-culural distribuido gratuitamente na região do médio piracicaba.

quarta-feira, 16 de abril de 2008


aldeia

Hoje sei a falsa fama americana
Acordei sob a égide cubana
Vesti burca de uma turca da savana
Senti a crua fome subsaariana

Caminhei a passos de indiana
Enfrentei muros com arma iraniana
Feito fosse um Buda em havana
Com honras e horrores de bwana

agonizei, chorei a dor da africana
concordei com a revolta iraquiana
E adormeci feito um náufrago
Numa praia sergipana

domingo, 13 de abril de 2008


Carta aberta para um povo triste

“E vou escrever esta história
para provar que sou sublime”

Como se nada fizesse falta
ou -mesmo as coisas findas-
pequenas em sua estranheza
eu voltasse com outro gosto
sorrisse com mesmo rosto

e, ainda restasse um gesto
que ficasse , que valesse
essa palavra, essa reserva
última voz, única vez
para enfim significar e,

como se nada fizesse falta
na chegada eu quisesse ir

sábado, 12 de abril de 2008

ainda os mesmos?


OSOUTROS. Um grupo de teatro experimental que não chegou a existir deveras. Mas isso é um mero detalhe.
Alimentado em sua gênese pela contra-cultura, baseado-se no ideário comum de que é possível fazer reprocessando e criando a partir do que se tem, mantendo a linha do "sem parâmetros" e não limitando-se em saber "o que é" mas, "o que se pode fazer com", surpreenderam ao inovar dentro da dramaturgia contemporânea.
Dissecando entre outras coisas, Boal e José Celso Martinez; o teatro de rua de São Paulo e o "não-teatro" amador conhecido nos anos 60, OSOUTROS permanece não existindo, mas já deu o que falar na sua primeira apresentação, na estréia da peça "Isso, Zé!", mantendo a característica do grupo. Foi a única.

cotidiano


Era uma vez um menino chamado Paulo. Ele era pequeno, preto e suava a camisa no sol escaldante das tardes de outubro em uma cidade grande e cinza para vender seu beijo-quente aos transeuntes menos apressados (alguns ainda gostavam de beijo-quente, ou compravam por dó mesmo).
Paulo era o caçula de uma família pobre. Ele morava num bairro afastado onde não tinha praça, nem rio, nem rua calçada, nem ônibus, nem escola, nem hospital, nem farmácia, nem supermercado, nem alegria, nem festa, nem água encanada, nem nada.
Mas Paulo era brasileiro. Era um pretinho forte, apesar do café magro que sua mãe servia com amor e em silêncio, logo às seis da manhã, quando podia dividir com o filho alguns poucos minutos em paz, antes do beijo quente, entregue com recomendações carinhosas.
Já de posse da mercadoria, Paulo saía. Quando não encontrava o Zezim, ia sozinho mesmo. Reparava nos homens e mulheres que trabalhavam como domésticas, motoristas, seguranças, padeiros, prostitutas, enfim, todos os que vendiam barato a alma na cidade grande e chegavam cansados do trabalho noturno. Paulo seguia pensativo, por dentro de si, e quando ia se aproximando dos bairros asfaltados, já entrando na cidade, reparava as coisas, que pareciam correr numa velocidade diferente, as ruas boiavam numa atmosfera morna, esquisita. Era verão. O menino se esquecia do beijo, passando pelas calçadas, desviando das árvores, ouvindo atento o barulho dos motores, sentia o odor de escapamentos, eram os homens em seus carros, saindo para trabalhar ou levar os filhos a escola ou as mulheres ao shopping. Pensava.
Paulo dava tapas nos postes e placas, imitava o barulho dos carros, chutava as tampinhas que sobraram da cerveja de ontem em frente aos bares. A cidade era bonita, pensava o menino de toca de lã na cabeça e tabuleiro de alumínio amassado nas mãos. Achava que as meninas que via passarem depressa por ele pareciam com bonecas, iguais àquelas que via nas vitrines das lojas com homens de cara fechada na porta. Que aqueles prédios não podiam durar muito tempo assim, em pé, sem cair. Um dia cairiam. Pensava nas casas pequenas e sujas da sua rua. Pensava nas brincadeiras sem brinquedos da sua turma. Pensava no Zezim, que apanhava do pai quase todos os dias. Tinha sorte, seu pai era bom. Quando estava em casa não batia nele, nem nos irmãos, nem na mãe. Ficava calado num canto, cansado, com um pequeno livro na mão. Vez em quando olhava pro asfalto lá em baixo e ficava assim, longe, mas sem sair do lugar. Paulo pensava que ele estava querendo ir embora, mas não ia.
Gostava do pai, chamado José. Era pedreiro. Ensinava os seus irmãos a segurar a colher enquanto dizia que o trabalho era pesado, mas que Deus ajudava quando se fazia corretamente. Era um homem simples. Queria ser como o pai. José.
Paulo era um menino. Brasileiro. Morreu hoje, na cidade grande e cinza, onde vendia a alma em pequenos pacotes, a cinqüenta centavos, num tabuleiro de alumínio amassado.
E ninguém soube. Mas ele morreu hoje. Morreu hoje.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

PROCURA-SE!


Por razão e culpa destes conturbados tempos que vivemos, deixo aqui uma mensagem que mais pode ser lida como um pedido. A pessoa da foto aí de cima é uma grande amiga, Pollyanna Assis. Chilena radicada no Brasil quando aqui chegou ainda criança. Desde os primeiros anos de vida, demonstrou grande interesse pela ciência-arte da astronomia. Não foram poucas as vezes em que assustados, seus pais a surpreenderam ora deitada no telhado da casa onde moravam em Talcahuano a observar os céus chilenos, ora as voltas com livros sobre o assunto que, com o passar do tempo, ganhava mais seriedade, tornando-se assim motivo de planos e sonhos com uma carreira que a levasse, literalmente as alturas.
No Brasil, deu continuidade aos estudos num curso clandestino em Ouro Preto. Por razões até então desconhecidas depois disso nunca mais nos vimos ou falamos.
Fato é que, na última vez em que foi vista ela saia de um bar na mesma cidade, na companhia de três pessoas de índole discutível. Frequentadores do mesmo local dizem ter ouvido comentários vagos sobre uma "seita" ou algo parecido. Entre outros assuntos, relataram também terem ouvido (da pròpria Pollyanna), que "...a revolução começara!". Depois disso não foram mais vistos.
Como amigo que sou, me preocupa o fato de até o momento não ter nenhuma notícia. Nada que possibilite uma investigação ou coisa assim.
Na verdade, sempre acreditei que ela não é uma pessoa comum. Tinha ares outros. Sentia nela algo de novo, de longe, de não-descoberto. Por assim dizer, nunca pareceu "deste planeta"!
Depois de tanto tempo e nenhuma explicação para o ocorrido, é que resolvi fazer aqui o apelo.
Qualquer (qualquer mesmo!), notícia ou algo que possa oferecer pistas sobre o seu desaparecimento, por favor, não deixem de comunicar. Recompensa-se bem!

ar


ante o risco da palavra dura
vivo disperso suave
caminho torpe a rua escura
e sigo sem nenhum entrave

vesgo vejo o muro falso
paro e arrasto o cisco (trave?)
susto e caio, rôo o osso
um narciso a mais na nave

passos calmos vejo o mar
e entre a noite e o fim do dia
decido mudo...
ar, ar, ar...