Uma nova ordem está mudando a cidade de Barão de Cocais, isso é fato. As alterações ocasionadas pela aculturação sofrida nos últimos anos com a chegada de trabalhadores das empreiteiras terceirizadas e outros visitantes que, com o tempo foram se avizinhando até fazer parte da comunidade, no que chegou a ser citada como a “segunda corrida do ouro”, (dessa, o minério), assustou, e fez a população despertar para necessidade de reafirmar a sua identidade cultural.
Conhecidamente um povo pacífico, os cocaienses viram-se abalados em sua tranqüilidade, característica de uma cidade com mais de 300 anos e alma peculiarmente interiorana.
Geograficamente bem situada no percurso da estrada real, timidamente começando a ser visitada por aqueles que buscam ares bucólicos e roteiros para prática alternativa do ecoturismo, Barão de Cocais, com seus pouco mais de 25 mil habitantes até então, viu a vida ficar mais corrida por estas bandas.
Contudo, sabendo-se também inevitável e necessário o crescimento, a população se viu as voltas com um grande problema: Como conciliar esse crescimento com a qualidade de vida e a afirmação de suas raízes?
Poder público, gestores administrativos, associações, representantes religiosos, entidades de ensino, estudantes, empresariado, artistas, cidadãos comuns, enfim, a sociedade vivencia uma constatação única: Conviver com a miscigenação cultural.
Mais gente significa maior crescimento econômico. Conseqüentemente, maior arrecadação significa mais investimentos, possibilidade de melhoria da qualidade de vida e em se tratando do aspecto cultural, mais opções de lazer e cultura para todo mundo. Bom, ao menos deveria, não é?
Investimentos e apoio a projetos e eventos culturais existem, não há como negar. Mas se pensarmos em números, na arrecadação pública que cresceu consideravelmente, no quanto as grandes empresas (principalmente as mineradoras), lucram e continuarão lucrando durante anos de exploração deste solo sabidamente rico e ainda, se pensarmos em como a população cresce desmedidamente, teremos um quadro em que é fácil perceber a necessidade de mais e maiores investimentos na área cultural. Seja ela captada na esfera municipal, estadual ou federal, através das leis de incentivo a cultura ou, até mesmo, apelando para a tão citada responsabilidade-social, principal bandeira das grandes empresas. O que fica claro é que muito mais pode ser feito.
Fala-se na parcela jovem que caminha às avessas dos valores apreendidos e que não tem outra opção senão consumir (-se) culturalmente apenas da programação da tv aberta, da sabatina nos bares e praças já saturados, das festas, (estas, em sua maioria, de cunho religioso) e quando muito, de um teatro regional (reconhecidamente bom), mas que não suprem a carência de uma população que quase dobrou em número de habitantes.
Neste ponto, podemos imaginar a longo prazo, que bagagem cultural e crítica sustentarão os mais jovens? Que legado, além do religioso, estarão herdando?
Criar uma conexão entre esta nova sociedade, as mudanças e a manutenção da identidade local está intimamente ligada a (como) conviver com todos esses fatores, extraindo deles o melhor do que pode existir nessa “mistura” de referências.
A reação contra tudo o que não esteja de acordo com o conceito de bem-viver vem, crescentemente, sendo afirmada, repassada e estabelecida como “trincheira”, que separa a visão do imprescindível crescimento da agressiva mudança dos valores sociais locais.
O que se pode citar, por outro lado, é aquilo que se tem feito/existe e merece reconhecimento, como as investidas da secretaria de cultura, que organiza e diversifica a cada ano (com a entrada da nova administração), o calendário cultural da cidade.
Seria o que poderíamos chamar de resgate cultural. Como por exemplo, o que foi visto na última edição da Festa dos Pés de Pomba, que conseguiu levar à parcela mais carente da população, assim como aos mais esclarecidos, apresentações artísticas de renome, oficinas realmente proveitosas, shows de primeira qualidade, conseguindo agradar a gregos e troianos. Ou ainda, outros projetos como a Orquestra de Flautas, 5ª sonora, Projeto Luthier, (também agregados à secretaria de cultura) muito bem inseridos à nova demanda social, mas, que ainda assim poderiam ser mais bem amparados se as empresas se disponibilizassem a apoiar.
Vale dizer ainda que essa configuração não significa uma idéia pré-estabelecida, não se atem a amarras e, menos ainda, pretende estabelecer-se como forma ou fôrma para a visão do que é ou não é afirmação de identidade cultural. Entende-se de modo a externar uma visão global do cenário vigente hoje, nos moldes do solo pé de pomba.
As percepções emolduram os fatos que urgem melhorias. Aqui foram retratadas no âmbito cultural. Panoramas melhores podem existir (?). O caminho mais curto então seria utilizar os mecanismos legais, como as citadas leis e fazer valer a vontade do povo que quer o desenvolvimento em vários aspectos.
O texto acima surgiu após uma conversa com a jornalista Sandra Cunha, que sugeriu que eu enviasse minhas possiveis críticas e sugestões para o jornal "Leia Mais", espécie de informativo-culural distribuido gratuitamente na região do médio piracicaba.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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Um comentário:
Gostei do título - que me faz lembrar a música - e do texto, poderia publicá-lo n'algum jornal!
Uma excelente crítica!
srta assis
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