segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

da tristeza absurda


sei que vistes mais de um anjo a domesticar o meu sono
poderiam ser os de sodoma como um primeiro qualquer
eu sei que mantêm poemas enterrados sob estátuas
e que cativas feras absurdas em casa junto dos jardins
sei também que em cada ocaso elabora em minúcias
planos de viagem para depois dos jogos noturnos
ou até, dependendo do trago, um suicídio discreto
das proezas que me contaram, nenhuma te significa
não sabem de mim, por muito, como é tua loucura
teus risos rasgados, tua carne, teus cabelos mudos
guardei teus segredos onde nem sei mais
mas me arranharão por muito ainda as tuas asas
para lembrar que meus pés sonham suspensos no abismo
e que a órbita de teus olhos só eu compreenderei
quando por fim o mar guardar de novo meus mistérios

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

n'algum lugar



nenhuma rosa nas mãos
mas o desejo de partilhar
as cores de algum povo
esteve sempre em minha raiz
nenhum recado ao rei
porque minha volta
é de lugares ermos
da calma que trago em mim
apenas o olhar e a alma
são os segredos que me contaram
e nenhum guardava a verdade
do pó da estrada em mim
muitas músicas se farão
mesmo que mudas de si
com dedos e silêncios
hei de inventar um dia
uma mágica de adormecer
os homens que a muito
impedem as crianças de acordar
e assim, neste dia ou noite
hão de entender as minhas pegadas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

sobre o que vem


eu queria ser, por vezes, o 7º anjo do apocalipse
e com um sopro de trombeta incendiar todos os poemas do mundo
o dono de uma casa de ópio na índia antiga
e abrigar fugitivos de todas as guerras
madalena despida em noite fria
a gritar pelas ruas o 4º evangelho
e faço do silêncio que as coisas têm
uma cama só de insensatos e cegos
porque olho todas as vozes ferindo o sagrado de tudo
maculando o vidro das almas pacientes
e ardendo em chamas como num sacrário
feito um par de asas sem dono que vai
para além de onde nascem os hinos
mas que em minhas costas sangrou duas cicatrizes
sujas de todo tipo de novidades
e de sonhos que não são meus
para que eu adormecesse sem medo
e ao acordar, num susto
soubesse que noite vai ser pra sempre