terça-feira, 19 de junho de 2007

carta de apresentação:



Texto para a orelha do livro

Entre outras coisas, Marden diz procurar uma poesiaoutracoisa. Persegue-a, de modo insistente, entre atalhos e outros caminhos, entre o fundo e a superfície, entre o tudo e o quase, entre versos assim... Em certos instantes, arrisca encontrá-la e arranca aplausos ao desespero. Mas, em seguida, retoma: Não! Hoje ainda não é poesia. E a busca continua... Entre outras palavras, outras imagens, outros ritmos, outros versos, enfim, entre outras páginas entre tantas coisas. A poesia do livro em busca da poesia da vida, e vice-versa: poesiaoutracoisa. Para muitos a palavra é consolo, para Marden ela se inscreve entre a alma e o osso.


Carlos Augusto Novaes

sexta-feira, 15 de junho de 2007

do bar para sua sala!


BAR DO ESCRITOR na RedeTV



O BAR DO ESCRITOR, a comunidade de literatura mais ativa do iorGut, será matéria do programa Olhar Digital desse domingo, dia 17/06, às 15h30 na Rede TV. Depois desse horário, assista pela internet em http://www.olhardigital.com.br/. O BDE é um lugar anárquico e sincero, tendo nas críticas embasadas sua verdadeira vocação. só posta lá quem tem coragem, é louco ou acredita nas suas letras.Nosso bar ficou tão frequentado que cresceu para um BLOG e um EZINE.
Conheça:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3891757
e também em
http://www.bardoescritor.net/


O BAR


Literatura. É este o assunto do Bar do Escritor, que surgiu no iorGut em 3 de agosto de 2005 e logo mostrou-se interessante àqueles que tinham coragem de opinar sobre a produção textual alheia (afinal, nem tudo é literatura).
O objetivo é difundir as boas letras, sem esquecer de meter o pau em quem fez besteira, pois estamos num bar e aqui não é lugar para etiqueta nem urbanidade, apenas a boa e velha sinceridade.
É um lugar anárquico, onde há apenas uma regra: as críticas são feitas ao texto, jamais ao autor! Neste intuito pensamos alcançar a melhor maneira de dizer o que realmente pensamos sobre a obra em questão sem ofender os "ilustres" e "sensíveis" escritores que participarem de nossas rodadas literárias. Em tempos: o espaço é de todos para criticar, ser criticado, ofender-se ou aprender e melhorar.
O Bar não é o lugar para quem busca elogios fugazes.
A estrutura define-se em um blog para diálogo com os leitores, uma rodada mensal (na vontade apenas) de "drinks" literários (lembrando que nem sempre a bebida desce bem) no Ezine de Literatura e a discussão ferrenha, mal-educada, apaixonada e anárquica na comunidade Bar do Escritor no iorGut.
VENHAM!
ESTÃO TODOS CONVIDADOS!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

RE-COMENDO!



ficha técnica
produzido por renato villaça
co-produzido por makely
direção artística: makely e maísa moura
projeto gráfico: bruno brum
fotos: makely (gatos elétricos), gisele moura (autofagia), maísa moura (estúdio)
gravado no estúdio engenho por andré cabelo e grilo entre julho de 2005 e outubro de 2006
mixado por andré cabelo, renato villaça e makely
masterizado por andré cabelo

Isso tudo pra dizer que esse disco tá "ducaralho!", e é realmente o melhor que tá tendo do que há de genuinamente (novo) na praça!
EU RE-COMENDO, RECOMENDO!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O mar de dentro


O mar agora era e espalhava-se com certo regalo torto na areia úmida daquele dia cinza, inteiro e ainda intacto.
Acordou cedo aquela manhã. Mal levantou da cama, banhou-se e saiu. Caminhou pelas ruas ainda desertas, acompanhada por uma sensação que a cidade estava por ser descoberta em seus mais recônditos caminhos. Chovia fino. Seguiu mesmos caminhos diferentes. Ia sem a pressa dos que só conheciam os ‘dias vazios’ de compromissos importantes. Deixou-se simples, temente e mais nada. Andou, até que seus olhos se enchessem de água salgada; a do oceano.
A praia estava deserta àquela hora e invadiu Beatriz com seus cheiros e formas.
O vento era o mesmo, mas, vinha de longe agora; tão longe, pensava Beatriz. Era como o canto triste de alguma sereia perdida em outras águas.
Olhava o mar das pedras que serviam de ancoradouro àqueles pequenos barcos de pesca. Gostava daqueles barcos. Eram coloridos e todos tinham nome. Alguns iguais aos nomes de gente. Procurava esperançosa por “Beatriz”. Seria ele pequeno, forte e simples. Não encontrou. Devia estar mais adiante, lá longe, em alto mar, consolou-se.
Hoje não veria o sol. Aquele dia era mais pra pensar, que para o sol. Cinza o pensamento que vagava em Beatriz.
Era pouco o querer então. Pouco movimento e o pensar lá, onde ela estava. Ficou então no mar. E só. Agora ele quem a olhava.
O mar. Esperou e, enquanto havia (...), caminhos na areia, ficou nas pedras. Silêncios. Mar. O pensar na cabeça. Deixou que o tempo passasse por ela. E não foi.
Sim, o mar ali na sua frente não era maior que o mar dentro dela, mas o que importava era o mar, maior que tudo. E mais mar é sempre o que se via até onde buscava Beatriz, que era “ela!”, a navegar. Longe então. Beatriz sem bússola.
Por que o mar? Ah, perguntas! Sempre as perguntas...
E aquela estação seria mesmo um pouco triste. O céu não deixava de confirmar. Carregava de cinza o horizonte. O mesmo, onde Beatriz buscava encontrar enquanto ouvia os conselhos do mar. Beatriz ilha.
- De quem será o mar? Beatriz, cansada, abraçando as próprias pernas pensava. Rogam a quem os marinheiros nas desventuras do alto mar? Choram eles? Sentem medo? E essa pergunta cresceu em Beatriz.
Os homens acostumados ao mar. Guardadores de seus mistérios. Marcados em suas vidas pelo muito que viram de mar a mais. Eles sentiam medo? Talvez medo do mar? Já ouvira dizer que era preciso respeitar o mar. Sabia disso. Sentia isso! Mas (medo), não sabia dizer. E como era grande todo aquele mar ali na sua frente. Mares.
De lá era bom de olhar... Gigantes de nuvens escuras encenavam batalhas silenciosas no horizonte distante enquanto o mar ralhava mais alto suas verdades profundas. E Beatriz, pequena dentro de si era a platéia e, sem saber, o motivo da disputa entre céu e mar. Vencia sem saber. Ouvia e só. Via e mais nada. Sentia que se tornara parte das rochas. Era irmã das gaivotas. Prima dos ventos que vinham de longe, cúmplice das ondas e filha do mar. Queria se expressar, queria falar gritar... Preferiu o silêncio. Acalmaria as palavras dentro de si. Faria como o mar. Esperaria a volta e, se preciso voltaria de novo e de novo, até permanecer.
Nas idas e vindas dos seus poucos anos não imaginava estar, como agora assim, sem ela. Porque não havia nada entre a areia e o mar que não terminasse (começasse?), em Beatriz naquele dia cinza.
Bastaria uma única vez, pensava. Uma vez apenas e ela faria a coisa certa. Não erraria novamente. Por certo que não. Havia crescido muito, acreditava. Estava forte e segura. Mas faltava algo. Faltava uma última coisa ainda. A questão era: O que faltava?
Um barco surgia na linha que separava céu e mar. Era “Beatriz”, por certo que era. Vinha de longe. O que trazia? Notícias? Tristezas? Felicidades?
Não traria nada? Nada?
Até ali conseguiu agir naturalmente, com calma. Pensando cada ato. Medindo todo fato. Cumprindo todo trato. Sentia-se torta, morta. Pra quê?
O mar engolia suas certezas e devolvia dúvidas. Por quê?
A pequena embarcação insistia em significar. E, vinha, ao sabor das ondas, vinha fazer parte daquele dia. Beatriz e o barco.
Começava a chover. Beatriz era toda água então. Um navio, mais de perto. Sim! O pequeno barco que surgira no horizonte revelava-se um gigantesco e pesado navio de carga, enferrujando o que restava de fresco no olhar de Beatriz. E aquele mostro marinho, silencioso e triste, apitou. Marcando o momento em que as ondas cresceram, mastigando mais as areias desertas.
Beatriz atirou-se ao mar. Inundou o mar. Queria ser o mar, Beatriz.
Afundou em tudo o que, mergulhado nela, ocupava lugar do seu nome, de si, de porto.
Não encontrou tesouros. Entendeu que eram reais, mas não encontrou. Sabia-os lá. Mas não se mostraram. Permaneciam. E ela, no fundo, procurava. Mar. Desertos tomados por água. Desertos profundos e mar. Beatriz e tesouros. Escombros. Água e mar. Beatriz. Metáfora do mar em si.
Descobriu que os navios vistos por baixo são tristes demais. Nada mais triste que um navio visto por baixo. Ferro que flutua sem vida. Corpo de metal de triste monstro sem vida. Abismos. Os navios de Beatriz. Eram um tesouro as avessas. E sem nome. Amargo. Mar.
Beatriz no mar não se salvou das dúvidas da superfície boiando sobre ela nas ondas que lavavam tudo. Que levavam tudo de volta. Que não permaneciam. Mas o barco ficou. Permaneceu também e não encontrou nenhum cais seguro onde pudesse atracar Beatriz, o mar de dentro era bravio. Naufragou.