quinta-feira, 29 de março de 2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

marcha



de toda rédea que obedeci, homem-boi à porta de casa
nem mugido, nem grito ante o prenúcio sacrifício

besta muda paisagem a fora
marchamos aflitos, marcados de invisível semelhança

novidade estranha aos que se arriscam nas janelas
pisando pesadamente a vida, vamos sem comando
tangidos por não sei que berrante hipnótico
arrancamos sem aviso e determinados

as ruas antigas, acostumadas aos passos já humanizados
se aborrecem de monstrenga criatura a pisar-lhes as entranhas

comemos lembranças, flor, solidão e esse capim cinza da vida
porque nossa fome é a mesma, sempre foi
fome e vontade

o mundo é grande mas não há muito o que levar

nos cascos a quentura do chão, o barro, o pó, o peso d'um corpo
nas mãos a certeza esmagada e os dedos carentes
desacostumados desse gesto rendido a utopias
agora retorcem-se na angústia das lembranças

e vamos. colossais, grotescos, naturais, banzos
senão, quedos do cansaço, noturnos a beira da noite triste,
adormecemos de um sono bovino e morno
ruminando o dia pra recomeçar amanhã essa marcha da vida