quarta-feira, 16 de maio de 2007

no palco


-Teatro-
"ISSO, Zé !"
escrita por Marden


Isso, pronome. Demonstrativo.(l. ipsu), 1.Essa coisa, essas coisas; esse objeto, esses objetos. 2. Pejorativo. Essa pessoa. Interjeição. Indica aprovação.


Zé, Abreviação de nome próprio José. 1. Por se tratar de um nome supostamente conhecido e muito utilizado. 2 Chamamento pejorativo. Esse Zé! Zezinho. Qualquer um, pessoa simplória, alguém comum, qualquer um.
Personagens:


?-1: Ator principiante indignado com a atual situação da cultura e do descaso das autoridades e poder público que não apoiam as manifestações artísticas em sua cidade


?-2: músico-compositor que sofre de neurastenia crônica e que decide se matar diante da platéia caso não consiga se fazer entender diante da atual situação de insatisfação que vive, na mesma cidade onde também reside e tenta sobreviver de sua música


?-3: atriz insatisfeita com a massificação e a pasteurização das opiniões acerca do posicionamento da mulher no cotidiano cultural vivido na mesma faculdade


?-4: escritora e crítica de teatro, viciada em prozac, frustrada com o seu trabalho de editora falida e, que recentemente entrou para um grupo de alcoólicos anônimos. É professora de filosofia na faculdade onde acontece a peça “Isso, Zé !”, na qual, pelo incentivo de seus alunos, atua pela primeira vez, interpretando o papel de “secretária” do diretor


?-5: Inexperiente diretor de teatro que sofre de instabilidade emocional e que está dirigindo a peça “Isso, Zé !”, a pedido dos integrantes do movimento “osissos” . Tenta na peça, de forma experimental, orientar os atores durante a apresentação do espetáculo. Cansado de dirigir peças que ninguém entende, ele repete o tempo todo que, se dessa vez não for compreendido, abandonará de vez o teatro para se dedicar ao crime organizado


?-6: garota marginalizada, moradora de rua e em explícito processo de exclusão social, que está sendo aliciada por uma cafetina.Dividida entre, prostituir-se ou casar-se com um empresário capitalista por dinheiro, encontra-se com o diretor da peça no momento da primeira exibição, quando ia a procurar o grupo “osissos” (os atores), para se informar sobre o movimento. Seu nome é “ Igual”


?-7: boneco (manequim), que ficará sentado durante o todo o espetáculo ( o único que estará presente em todas as cenas). Terá ao final de cada ato uma parte do seu corpo arrancada pelo ator que estiver saindo de cena.Ao que, os atores, no momento de sua saída do palco, quando estiverem retirando uma parte do seu corpo, dirão seu nome e o agradecerão.Seu nome é Zé.
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?-1: isso um
?-2: isso dois
?-3: isso três
?-4: isso quatro
?-5: isso cinco
?-6: Igual
?-7: Zé


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( A ação se passa numa espécie de sala de aula, onde os atores dividirão o palco com (talvez) onze manequins, não contando com o Zé. )




Já na entrada do teatro os espectadores recebem um controle-remoto que deverão segurar durante todo o tempo de duração da peça. (há também a possibilidade de serem colocados “réplicas” nas poltronas para que as pessoas mexam como quiserem).Os atores estarão misturados as pessoas da platéia. O diretor caminha normalmente até o palco. Onde permanece lendo algumas folhas “roteiro” e depois chama pelos atores. “?-1”, “?-2” , “?-3”, “?-4”, “?-5” e “?-6”, ao serem chamados vão para o palco ao mesmo tempo em que o público vai ocupando os lugares, andam de um lado para o outro, seguindo as orientações do diretor que notadamente está cansado. Ele (o diretor), fala para que eles (os atores) ajeitem os bonecos em suas cadeiras para começarem logo o “ensaio” da peça “ISSO, Zé!”. Os bonecos (manequins de loja) então são “ajeitando” em cadeiras comuns, onde ficarão assentados de costas para a platéia e de frente para uma tv, que estará ligada e fora do ar). Sendo o “Zé” o único boneco a estar disposto de frente para a platéia.


( Lembrando que, a peça será para o “diretor” um “último ensaio” e, por isso, os atores deverão seguir suas orientações sem se importarem com o público presente ).


A peça então começa com todos os atores no palco perfilados de maneira que o diretor irá dizer (em alto e bom som), o perfil de cada um deles para que o público possa identifica-los no decorrer da apresentação.


Orientados pelo diretor, saem todos, depois do papeis definidos e distribuídos, só ficando em cena o diretor que colocará o Zé sentado numa poltrona, depois vai vesti-lo com uma camisa da seleção brasileira, começando a andar de um lado para o outro como se pensasse em como começar a peça.
Faz-se silencio por algum tempo e ele diz olhando para cima:




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(começa a peça)



Diretor diz:


-Tudo certo aí?


(Atores continuam em silêncio...)
...
Diretor diz novamente:
-Ô pessoal? Tudo certo aí?
Atores respondem:
-Tudo!
Diretor: não tenho a noite toda, caramba! E isso aqui é só um ensaio. Não tem ninguém aqui alem de mim... e do Zé é claro!
Atores: Calma aí diretor!
Diretor:- Então comessem logo!


(Diretor vai para um canto e fica observando.)


(nessa hora “Igual” que acaba de entrar no teatro caminha por entre as pessoas da platéia , vai andando em direção do palco. Sobe a escada que dá acesso e diz olhando para o diretor :
-Peraí! Eu conheço você. Siiiimmmmm!!! Eu me lembro de você!


(se aproxima mais do diretor)


Pergunta se ele sabia quem eram os “osissos”. Por um momento o diretor faz uma expressão de quem não acredita que aquela menina esteja ali, bem no momento em que iriam começar a ensaiara peça.)


( ‘Igual” então explica que ficara sabendo da existência de um grupo chamado “osissos” do qual gostaria de fazer parte, já que pretendia deixar a vida alienada que estava levando.)


“Igual” fala ao diretor:


-Bom, primeiro deixa eu me apresentar:
-meu nome é Igual
-e você,o que está fazendo aqui?


Diretor: acho que essa pergunta cabe muito mais a você!
...
(continua falando)


-olha só minha querida! Isso aqui é um teatro e estamos no meio, no meio... não, no inicio do ensaio de uma peça. Posso ajuda-la em alguma coisa?


Igual: Eu sou a mulher do Zé! Bem na verdade ex-mulher, já que estou me separando. Mas na verdade eu estou aqui à procura do pessoal do grupo “osissos”. Fiquei sabendo que eles estariam aqui para ensaiar uma peça de teatro e...


(Diretor começa a andar pensativo pelo palco)


diretor: Ah! Perfeito. (como se houvesse surtado de repente)...


Então você será a sexta personagem. Estava mesmo pensando em colocar uma mulher a mais neste elenco. Tem alguma experiência de palco?
Não! Nunca fiz nada de teatro
Tem vontade?
Claro! Qualquer coisa para sair dessa vida sem-graça!
Então vamos ensaiar. Você será a mulher do Zé.
Mas eu já sou a mulher do Zé!
Não! Refiro-me ao “Zé” da peça. Essa peça que vamos ensaiar, a propósito, esse é o último ensaio, chama-se: ISSO, Zé! Na qual você vai interpretara mulher do Zé !
Ah ! sim! E qual é o que eu tenho que fazer?
É muito simples. Você tem que representar a mulher de um boneco.Venha comigo...


(saem o diretor e “Igual” deixando o palco vazio por instantes)


Início do “ensaio”:


Volta o diretor e diz:


-Agora sim! Vamos começar...


(vai para um canto do palco)


Cena -1




entra ?-1 (silêncio)...(barulho de um martelo batendo na madeira)...


( isso um, caminha normalmente segurando algumas folhas. Pára. Acende um cigarro. Continua caminhando. Vira-se de costas para a platéia e vê a TV. Olha a TV como se fosse alguma coisa estranha, desconhecida. Depois passa observando os rostos dos bonecos assentados e ri balançando a cabeça em sinal de desaprovação. Depois, sentado de pernas cruzadas, fica olhando para a platéia, enquanto prepara as folhas como se as organizasse)


?1 Finalmente diz:


-Durante muito tempo ainda vocês se lembrarão do que vai ser apresentado aqui hoje. Podem ter certeza de que, se isso não acontecer, é por que algo em vocês, certamente já não funciona mais. E possivelmente nunca, NUNCA MAIS voltará a funcionar!


-É mais que uma simples manifestação cultural (diz isso “cultural” , como se debochasse de si mesmo) e que, diga-se de passagem, I-N-D-I-G-N-A-D-A, já que nessa merda de espaço imaginário não acontece nada mesmo, ou alguém discorda?
Não! Porque se tem alguma coisa que vocês devem fazer é isso, discordar! Discordar é o primeiro passo para o inicio de uma boa conversa.
Isso-1 então Grita:


- Alguém aí, discorda?
...
(silêncio)
?-1: Ah, não??? Imaginei!
...


(ouve-se o som de vaias e aplausos vindo de um gravador, o que interrompe a continuação da fala)
...


?-1: senta-se na cadeira novamente e vira-se para frente assistindo a tv que está fora do ar e agora emite som (de chiado).


Permanece assim em silencio por algum tempo. Depois se levanta e sai.


(ao sair arranca um braço de Zé e diz: - obrigado Zé!).


Fim da cena 1.




. . .




(Ao serem abertas as cortinas, o palco esta vazio. Desta, os bonecos estão com as cabeças voltadas para trás, para platéia. A tv esta ligada, agora transmitindo um filme em preto e branco, sem som).
O diretor aparece segurando um crânio e uma marreta. Caminha pesadamente enquanto murmura algo inaudível. Sai de cena.


(de novo o barulho do martelo batendo na madeira).




Cena -2


Entra ?-3 e começa a caminha pelo palco observando friamente todo o público


?-3-segurando algumas folhas amassadas de papel, uma garrafa de bebida e um isqueiro, virando-se para platéia, diz:


-Desliguem a tv! Não quero ver novela! Ou pensam que isso me basta?
Minha vida já parece uma novela. Vendendo a alma pro patrão naquele balcão de loja, onde as patricinhas da cidade vão esnobar com seus cartões de crédito e compram, compram... roupas que nem vão usar, mas compram.
-pensam que só porque sou mulher tenho o costume de ver novela? Ah! Desliguem isso, logo!


(o barulho do martelo aumenta e fica mais rápido)


?-3: parada em pé e com a cabeça baixa diz:


-Vou contar uma história para vocês. (silêncio) Respira fundo e diz:
-Não! Não se preocupem. É uma história pequena.
...Um dia


(a tv é desligada subitamente)


?-3: Pára. Olha a platéia e diz em um tom de voz severo:


-Não! Não vou contar porcaria de história nenhuma. Vocês não entenderiam. Sinceramente. Não entenderiam nada dessa história.
Na verdade nem é uma história é uma SENSAÇÃO! Isso! Vocês não entenderiam essa sensação que estou vivendo. É algo muito... muito...


(sua fala é interrompida pelo barulho de vaias que vem do gravador)


?-3 diz estupefata:


-Mas o que é isso? Afinal uma mulher não pode mais ter sensações? Acaso sentir é proibido? O que é permitido então?


(ouve-se ao fundo um funk, bem baixo, como se não fizesse parte da peça)


Ah! Claro. Mulher é legal e tudo. É inteligente e mais. É bonita, útil, prática e... Ah,quer saber? Não me explico não!
Eu posso muito bem passar sem dizer a vocês o que me aflige.


(fala enquanto procura a cadeira. Senta-se. Coloca a garrafa no chão. Segura o papel como se fosse começar a ler).


(de novo a tv é ligada e está fora do ar)


?-3, como se estivesse lendo uma carta:


-Querida...


(toma um gole da bebida da garrafa e retoma a folha)


-queria dizer-te...


(pára de ler. Pega o isqueiro do bolso. Acende e fica olhando a chama com calma. Aproxima lentamente a carta do fogo e espera que ela queime lentamente).


Enquanto olha fixamente para a chama diz:


-Querida...


(fala em tom de voz muito baixo:- aquele estúpido pensa que sabe como me sinto... Argh!).


Por que será que sempre que “eles” sempre pensam que sabem o que nós queremos?


(cospe no chão. Joga a carta em chamas no chão e pisa. Pega a garrafa e sai rapidamente).
...


(ao sair arranca outro braço de Zé e diz: - Obrigada Zé!)


(a tv continua fora do ar)


Ouve-se agora uma conversa desordenada nos bastidores a respeito de como será que a peça vai ser entendida pela platéia. (falam como se aquela apresentação fosse realmente um ensaio). A conversa é em tom muito alto. Junto, ouve-se o barulho do martelo, também alto e rápido. Variando entre pancadas na madeira e no metal...


Fim da cena-2.




(As cortinas agora são abertas muito lentamente, ao mesmo tempo em que o som da tv fora do ar vai abaixando até o silêncio completo, quando as cortinas deverão estar completamente abertas).


(o diretor entra em cena com uma vassoura. Varre o que sobrou da “carta”. Apanha com uma pá e deposita no colo do Zé que estará sentado)




Cena-3


entra“IGUAL”


Igual: Falando ao celular, muito nervosa, como se estivesse atrasada e segurando uma agenda. Dá um beijo na boca de Zé e começa a andar de um lado para o outro, enquanto fala ao telefone com uma amiga.Diz:


-Engraçado, sabe? É que ele pensou que eu era boba, só porque me visto assim, de rosa! Bem feito, se deu mal. Achou que eu era uma menina bobinha, sem...


(pára de falar e levanta a mão como se tivesse acabado de ter uma idéia genial).


-Claro! É isso!


-O meu problema é justamente o fato de eu ainda não ter dito a verdade sobre mim. Claro! É só dizer a mais pura verdade sobre o que sou realmente e no teria mais problemas.


-Afinal é normal que...


(entra ?4 que interpreta uma aprendiz do diretor da peça, segurando uma prancheta onde faz suas anotações)


?4: se dirigindo a “igual”, diz:


-A marca não é essa. Não é assim que faremos na peça.


“igual” faz cara de quem não entende.


?4: Aí onde você parou não é a marca! Temos que fazer aquilo que estava ensaiado.


“igual”:- Não foi isso que o diretor me disse.


?-4: Vamos (pega Igual pelo braço), vou lhe mostrar como está no roteiro e repassar o texto com você.


(saem os dois)








Cena-4


(diretor em cena num canto)


?-2 entra cabisbaixo segurando um megafone e dizendo em voz baixa que irá se matar se a situação em que vive continuar. Diz ao megafone :


-Tupi or not tupi? That is the question...


(fala isso sorrindo debilmente)


Caminha desolado por todo o palco. Olha para o Zé. Senta-se na poltrona, entediado. Coloca o megafone no chão e acende um cigarro.


Diz olhando para os demais bonecos:


-Eu sei como se sentem! Podem acreditar. Eu sei perfeitamente como se sentem estando aí!
Repete sua primeira fala:


-Tupi or not tupi? (desolado)


Chega o diretor. Diz :


Não é assim. Eles não entendem isso dessa forma. Diga em alto e bom som ,porque eles não entendem se não for assim. Esse povo tá com o ouvido e o cérebro desacostumado. O negócio deles é funk, meu filho. Não é problema seu.
É assim ó!
(o diretor pega o mega fone da mão de ?-2 e grita: )


_TUPIIIIIIIIIIIIII OR NOT TUPIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII !!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Entendeu?


-Grite se for preciso! Diga:
(agora sem o mega fone, mas ainda em alta voz)


-TUPI OR NOT TUPI!!!!!!! TUPI OR NOT TUPI!!!!!!! TUPI OR NOT TUPIIII !!!!!!!!!


E diga a eles que isso significa muito mais que uma simples referencia a Sheakespeare e a Oswald de Andrade . Faça-os acreditar que é você quem está dizendo isso! Tente você agora! Vamos lá! Não tenha medo de gritar! Todo mundo precisa gritar de vez em quando para não ficar louco! Seja o que você está dizendo.... Ponha quanto és no mínimo que fazes! Vamos!


(pega ?-2 pelo braço e o levanta da poltrona)


-Vamos com isso rapaz! Diga!


(?-2 pega o megafone, Poe diante da boca, vacila por um momento e depois diz:)


-TUPI OR NOT TUPI?


(o diretor diz: Isso! Mais alto!)


?-2 então faz cara de puto e diz:


TUPIIIIIIIIIIIIIIIIII OR NOT TUPIIIIIIIIIIII !!!!!!!!!!!!!!!!!
IS THE QUESTION... CARALHO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


o diretor aplaude sorridente e diz:


-Ta vendo esse Zé aqui ó? (aponta para o boneco), pois é! É isso que somos aqui hoje! É isso o que na verdade somos: -BONECOS! SIMPLES! TOLOS! INOCENTES... BONECOS.... B-O-N-E-C-O-S.


Então eu te pergunto:


entra ?-4 com várias folhas na mão. Diz ao diretor:


-Mas, diretor! Espere um momento. Não é isso que está escrito aqui na fala desse ator! Não está seguindo o roteiro!


Diretor: -Mas não estou (mesmo) seguindo o roteiro, minha querida! Isso é só um ensaio...


(saem diretor e secretário)




Cena 5


Diretor entra com uma corda e começa a amarrar o bonecos pelos pés. Entram os atores e o impedem.
Retiram-no do palco (diretor está visivelmente transtornado)
Barulho alto de batidas de martelo na madeira




Cena 6


Diretor está de volta. Começa e gritar pelos atores...
Atores entram rapidamente um por um. Cercam o diretor em silêncio
Momentos de tensão no palco. Os atores ameaçam sair de cena. Repudiam o diretor. Reclamam muito. Dizem que a peça está mal escrita. Há início de uma confusão. Alguns bonecos são derrubados. Cresce a tensão...
Os atores decidem sair do palco. Saem todos juntos (com exeção do diretor). Reunidos na coxia, entre xingos e reclamações, decidem unanimemente, sair da peça e abandonar o diretor.
Vão agora um por um deixando o palco e ao sair entregam nas mãos do diretor a cópia do roteiro dizendo, cada um à sua forma, que não dá mais pra continuar. Que a peça é muito ruim...


O diretor que continua recebendo os papeis com as anotações dos outros personagens está diante do Zé e se prepara para entrega-lo




CENA-7 (o final)




(diretor entra carregando uma cadeira e senta perto do “zé”. Permanece quieto enquanto observa atentemente as feições do boneco)
Permanece assim e em silêncio completo até que ouve-se
um poema de Fernando Pessoa ao fundo, dando a certa dimensão densa do momento vivido pelo “diretor” naquele exato momento da peça.
Ele (o diretor), anda de um lado para o outro no palco enquanto ouve o poema atentamente.
Depois disso (ao final do poema e de um longo silencio) pára estático diante de um quadro em branco pendurado na perede.


Diretor fala com o Zé. Descreve sua trajetória até ali, na quele momento e decide parar com o teatro. Deposita as folhas no colo do boneco e levanta-se para sair do palco. Nesse momento o boneco vira-se (era um ator maquiado), segue o diretor e saem de cena juntos.
O boneco volta e “atira” as folhas na platéia.






-Fim-

quarta-feira, 9 de maio de 2007

carta aberta aos poetas



Enquanto posso escrevo. Já que é sina e não sorte, tropeço no fica prá traz e sigo que meu santo é forte. Ao menos era.
Mas isso não vem agora ao caso. Nem me canso de dizer que poeta é verme e dos piores. Também mais pra bandido que salvador. "Mata" e nem se importa. Não tem pudores maiores do que de um verme, como dito.
Poetas vivem antes, e depois do que sobra nas últimas palavras. E faz com elas e delas sua obra-prima. Levanta dos escombros um castelo. Rasga e toca fogo em sua própria obra... depois faz de novo e de novo se for preciso ou lhe der na telha! Ergue das cinzas uma chama e se aquece entre os espinhos. Prefere os inóspitos caminhos . Poeta não diz. É dito. E de todos, o maldito é sempre ele. Poeta é assim, não se faz de rogado. É histórico, antes de tudo era nada, depois passou a ser o verbo. E o verbo se fez carne. Antes tivesse permanecido verbo e só! Mas aí entra o poeta.
Escreve e doma; Se faz palavra e sentido; A própria língua e linguagem. Léxico. Semântico. Sintático. Prolixo. Pós-tudo. Poeta. Porra!
Dono do próprio latim, ele não é mais que um homem e sua história pequena. Pobre vida de quem escreve. Ô sina!
Mas dentre as artes, todas, a palavra ainda continua sendo a que mais se aproxima da elevação total. O poeta? Seu dono e senhor.
Poetai, poetas! Como disse Torquato...
Poesia! poesia! Poesia! poesia! Poesia! poesia! Poesia! poesia!
Antes o poeta sujo e inquieto que uma palavra limpa e sem significado.
Salvem os poetas! All right?