quarta-feira, 27 de agosto de 2008
27
Completo hoje 27 anos. Digo isso, e pode parecer bobagem, mas é que o 27 é o mais cabalístico dos números, fato desconhecido pela maioria das pessoas. De acordo com a numerologia, o 27 significa transição de um estágio. Os especialistas dizem que a cada nove anos os indivíduos experimentam uma transição na vida, e que o 27 é a idade da passagem.
Significancias a parte, deixo uma prova de que realidades coexistem independentemente de épocas (mesmo que esta ainda seja de excessos) e histórias de vida sejam mais que uma simples biografia a ser contada. Às provas!
O poeta, músico e compositor Noel Rosa morreu em 1937, ano em que completaria 27 anos. Deixou mais de duzentas músicas compostas sozinhas ou em parceria, das quais, pelo menos a metade, é de composições que marcaram a história. No mesmo ano, morreu o poeta coreano Yin Sang, quando estava prestes a completar os fatídicos 27, caso não sucumbisse à tuberculose, grande mal da época.
No ano de 1938, morreu o músico e pai do blues, Robert Johnson, exatamente aos 27 anos. O músico do Mississipi reinventou o blues com novos acordes e harmonias. Diz a lenda que ele fez um acordo com o diabo, dando-lhe a alma em troca do talento musical, fato assumido em várias canções de Johnson e, também, no filme “A Encruzilhada”, cuja história é baseada na vida do músico.
O poeta e jornalista piauiense Torquato Neto, o anjo torto, pai do movimento da tropicália no Brasil, abriu o gás aos 27 anos. Deixou inúmeros textos e músicas, muitos escritos em parceria com Gilberto Gil e Caetano Veloso. E foi aos 27 que jogaram a toalha os músicos Jim Morrison, vocalista do conjunto The Doors e Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, ícones do rock mundial. Morrison foi encontrado morto pela namorada na banheira de seu apartamento em Paris. Os exames apontaram ataque cardíaco por overdose de heroína. Já Cobain suicidou-se no ápice da fama, com um tio de espingarda na cabeça. O corpo foi encontrado por um eletricista que arrombou a janela do músico, após desconfiar que havia “algo errado”. Ao lado do corpo estava uma carta, escrita com tinta vermelha, endereçada a mulher e a filha.
No ano de 1970, dois músicos de renome no cenário mundial bateram as botas, ambos aos 27: o guitarrista Jimi Hendrix, que morreu, supostamente, asfixiado pelo próprio vômito, e a cantora Janis Joplin, por overdose de heroína. Um ano antes, mas também aos 27 anos, o ex-integrante do conjunto Rolling Stones, Brian Jones, foi encontrado morto, boiando na piscina de casa.
Também, o poeta português Mario de Sá Carneiro se matou aos 27, em um quarto de hotel. Ele tinha a mesma idade do poeta austríaco George Trakl quando morreu. E foi na casa dos famigerados 27, que o poeta e compositor inglês Nick Drake pediu a conta.
O fato mais curioso ocorreu com o ex-Beatle Paul McCartney. Existe um boato em que o baixista teria morrido em um acidente aéreo, aos 27, e logo em seguida substituído por um sósia. Mas boatos são só boatos.
A própria morte de Jesus Cristo, ocorrida na sexta-feira santa, se analisada de acordo com o calendário Juliano, foi em um dia 27 de março. Também em um dia 27, do mês de julho, morreu em Lisboa o ditador António de Oliveira Salazar.
Muitos outros deixaram a história aos 27, como o pioneiro do rock inglês, Frederick Heath, mais conhecido como Johnny Kidd e Gary Thain, ex-integrante da banda Uriah Heep, assim como o diretor de cinema romeno, Cristian Nemescu, premiado no 60º Festival de Cannes pelo filme "California Dreaming".
Excessão a regra ou o contrário, acabo de completar os famigerados 27 e até onde se sabe continuo VIVO!
(texto re-inspirado em palavras de Lucas Palhares que ampliou conscientemente o "unico consolo" de Makely ka)
terça-feira, 19 de agosto de 2008
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
bipolar
o couro que me cobre a carne não tem planos
faz anos vive a insensatez da espera
traz nos sonhos uma confusão que arde
e abriga dentro a infernal quimera
subentende-se num desequilíbrio avesso
mãos e pés por entre dúvidas grave
cativo a tempos como um deus reteso
da liberdade regurgita o entrave
caos e coisa ou representatividade
e daí? se o cu do mundo é o mesmo
e me bateram isso em tenra idade
a saída só encontro aqui, surpreso
dentro da metodológica verdade (?)
filosofia agora é o 'veropeso'
e mais um verso vem fazer alarde!
Para a filósofa Patrícia Mara
terça-feira, 12 de agosto de 2008
mundinho
em todas as portas trancadas
dentro de todas elas,
nas tranças de todas as moças marcadas
e nas donzelas
nas poças de água, depois da chuva
da madrugada, na rua, em todas elas
nos bancos, nas praças, nas conversas
e nas novelas
nos botecos, nos passos e alamedas
nas favelas
por entre as putas e nas missas
nos domingos de preguiça
nos metrôs, ônibus e camelôs
nos dicionários
nos espelhos e vitrines embaçadas
em armários
nas calçadas e vielas
entre as feias e as belas
bêbados e esparrelas, nas guelas
por cima de todas as terras
nas guerras, nas merdas
lá vai, lá vai,
lá vem
você com essa carnal mania
de passar por tudo e por nada
desse mundo todo
já cheio de mim
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
caoscontrário
A galope, por dentro
abrindo a porta dos astros
e corpos celestiais, abri
umbrais
em duas patas, feito poesia
não era noite, não era dia
nem era a hera de alegria
era mais forte, errei mais fundo
era o fim do mundo e eu já sabia
depois de tudo assim já ia
o mundo mudo em afasia,
se desfazia
perderam a paz
ganharam a mais
razão não há
sem despedida
destroços, ira!
Remorsos, pira!
Parcas, sal,
sem céu, sertão!
- sol -
só!
De cima a baixo
oeste, norte, leste, sul
imundomundo
ocaso bárbaro,
ceifeiro tártaro,
targum de boi!
Negreiro póstumo
lázaro maximum
do zé a zeus foi!
Felá, “felei”!
Negrin, “negrei”!
tanta corrente
eu nem sei mais
há tanto tempo, há tempos
o que era brisa, ventos
virou tufão, tormentos
caminhos tortos
um céu de mortos
pérola aos porcos
-parcos-
à taquicardia estelar
o sonho só
do pó ao pó!
Início? Meio? Fim?
Quantas vezes assim?
Trombetas, périplo d’óbulo
Antecipo-me ao escárnio
nem data, mapa ou horário
da mandrágora de hades
revolto antes, dante
refaço em asas, dentes
cria, criador
VOU
Nas casas afugentando os pássaros
nas ruas alforriando almas
VEM
não há mais casas
não há mais ruas
não há mais pássaros
não há
VAI
é o caos!
É o caos!
O caos!
Por força, outro itinerário
a graça, alheio fuso horário
(...)
o caos! O escárnio!
JÁ
Sem nau, atalho ou estrela
sem guia, estrada, centelha
sem mãos dadas (grito!)
sem nada, (finito...).
e assim, escombro
feito império extinto
assomo
abrigo um deus faminto
De nome: NÃO!
Nu e sem destino
a só
sem enigma, chuva
e significado, sigo
EU
Ao caos contrário
ao caos contrário
O
caos
contrário
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Ágape
criei nos dedos dois lugares
de sol e vento e frio e ar
alguma terra e muita água
da chuva dos outonos todos
ganhei apostas, tive medo
pequei sem mal e saciei-me
ardi de amor, de ódio
atravessei muitas portas
e ainda espero, Ágape
lá fora chove, forte
aqui é tarde e a sorte
mesmo alarde ensaia voz
me arrenpendi de nada
me revoltei e guardo
livros, louros, lares
e ainda erro, Ágape
sou visto e vejo
amo, ando, canto e beijo
me dispo, encerro, silencio
guardo perdas, perco
creio e perdoo
depois me levanto e
recomeço tudo de novo
e ainda quero, Ágape
soletro hinos e sobrenome
festejo pormenores
me acho longe, grande
encontro rumor nas coisas
não dizem nada
não têm sombras
não me tocam
desato os nós
incendeio os mapas
peço passagem
sem saber onde ir
e vou, alífero
e sem caminho
e ainda voo, Ágape
mantenho a palma aberta
umas linhas mesmas
e a certezas plenas
de então chegar
n'algum portão
dividindo os muros
d'algum castelo
onde ainda sei
mesmo sem asas
hei de abrir os braços
-como um deus- enfim,
Ágape, e repousar
história
levei tempo até domesticar
o meu olhar algum vazio
o cheiro da estrada
-e os porões-
gastei os dentes
a medir sonhos
roubei detalhes das manhãs
mas nunca os contei
não são meus ainda (?)
rasguei noites pacientes
com coragem e azuis
violentei muitas e muitas
[quase todas]
as tardes modorrentas de esgar
que essas não passam
de joelhos postos, hereges
...vi tantos sóis!
mesmo sabendo o mal
que causaram às vistas
uns mil luares ou mais
os dedos se lhes tomaram enrrugados
nas recusas do nome de qualquer
me ensurdeceram
sorriem de minhas pegadas
por onde ainda não passaste
sabia de cor as ondas marinhas
mesmo sendo entranha das montanhas
voejei por cima o cimo dos telhados
muito alto para quem tem íris nos chãos
nos recantos, intervalos e silêncios
ouvidos os meus gritos,
riam-se de minha afonia
nunca cantei, mas não por isso
contudo, tua música ainda persiste
em minhas pedras e ossos
enfim, sei de minha história
como um livro antigo
e inédito aos teus olhos
se te concentrares em ler
vais sentir e sentir-me
com um pacto desfeito no escuro
mas que ainda sangra
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
nem toda tarde é santa
nem toda noite preta
nem toda moça é riso
nem toda arte é tanta
mas toda sorte é cio
e toda parte esconde
de certo estrada é rio
e pouca alma grande
sei toda volta estio
vejo todo céu gigante
sou todo mar bravio
isso todo porto espande
qualquer calar idílio
algum segredo é onde
nenhuma paixão exílio
nem todo amor é nome
sábado, 2 de agosto de 2008
sonho galopado
e um meu cavalo abriu a porta
em pêlo e cascos a chiar
bem devagar, bem devagar
não era frio onde eu dormia
era no mar, era no mar
haviam estradas de alegria
um acalanto de luar, de um luar
era de noite eu já dormia
a galopar, a galopar
e um meu cavalo abriu a porta
devagar, bem devagar
em pêlo, cascos e magia
a relinchar, a relinchar
rodopiou, fez ventania
roçou a crina devagar
que luminosa e cristalina
de se sonhar, de se sonhar
galopou por cima d´agua
me fez rodar e fez rodar
sem rédea, arreio, espora ou 'cilho'
de se bradar, de se bradar
cavalo então, nem tinha rima
não tinha nome, nem lugar
inda era noite abriu a porta
em pêlo e cascos a chiar
bem devagar
me pôs a vida numa quilha
ao fim de tudo, no fim do ar
até onde ia a tua corrida
em tuas patas derrear, a galopar
um meu cavalo abriu a porta
em pêlo e cascos a chiar
baixou o dorso em uma ilha
desci pra ver o teu olhar
era um olhar de alma minha
o meu cavalo a cavalgar
fechou os olhos comigo dentro
bem devagar, bem devagar
de um salto só
sem despedida
entrou no mar
a mergulhar, a mergulhar
era um galope só de ida
a me deixar, a me deixar
bem devagar
por que voltar?
por que voltar?
por que voltar?
no meu cavalo a navegar
(depois dessa noite voltei a crer na inspiração)
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
à um hóspede triste
no silêncio da sala, tua chegada era lenta, muito lenta
quase insípida tua chegada a qualquer hora que fosse
parecia sempre esperar que lhe abrissem a porta
ou a alma como sempre imaginei um dia acontecer sem aviso
não eram outras as tuas roupas de ontem-amanhã
-quase sempre- com marcas de algum pecado antigo ou isso
e a forma com que me olhavas (sem por os olhos em mim)
mas em qualquer outro móvel e objeto que me significasse
era apascentar a peste que crescera pelo chão
com as noites, as manhãs, os dias, principalmente os domingos
dia-a-dia como os pássaros que não se entristeceram de vez
:e ainda pousavam
no chão, na escada, por debaixo das gaiolas dos seus que
não se debatiam mais nas prisões cotidianamente limpas
pelas mãos ásperas, contudo delicadas aos carinhos sutis e que vez em quando
chegavam de outros dedos ágeis e menos grossos
era quando podias rever a vida inteira
mas ainda fuguravam as sombras, as fotos e os sábados de calor
pediam mais de ti em silêncio que podias imaginar
eram quase gritos, quase berros cartográficos a delimitar
o passar dos anos, das comemorações, dos tristíssimos natais,
das histórias que de tão simples, poderiam ser escritas novamente
mas era deserto demais para tão pouca alma e água
ou seriam os caminhos que não davam em lugar de oásis?
por que dentro de muitos deles haviam outros dispostos
a levar a cabo todas as dúvidas, as súplicas, os nós?
não entendes? não sabes? não dizes? não podes? não?
quero mesmo saber? não?
...há tantas e tantas coisas (como já disse em muitas de nossas conversas)!
onde quase chegavamos a filosofar, não fosse o barulho incolor do vento a carregar
nossas poucas palavras, nossos raros risos, nossas horas, gestos
e voltávamos sem pressa ou rancor para dentro das pálpebras
talvez dessas tantas sensações ainda hoje se fabriquem homens?
se não, não acredito mais no mundo, nem nas despedidas.
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