quinta-feira, 28 de outubro de 2010

pátria



de onde venho, venho só
venho de dentro, insípido pó
caminho fugido de mim
e me procuro na trama de um nó

entre o que era e o que se faz
na costura da linha da mão
desvãos, atalhos e trilhos
me cerzem costuras do não

me vou e por onde urdir minha sina
quer por dentro ou por fora, do próprio caminho,
é que faço a haste, a bandeira e o brasão

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

minha poesia


substância futura é essa minha poesia carne
matéria-anti-matéria quântica da flor
meu poema é feito o espírito da pedra
gameta divisível único, amor?

minha poesia é aurora boreal do invisível
e reflexo nítido, nebulosa em cor
é tácita, líquida, sensorial
arde ainda de um antigo fogo, clamor?

é linfa, é lúcida, rarefeita, esplendor
minha poesia é minha, meu servo, meu senhor?

minha poesia é.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

da graça que a vida tem




eram dois palhaços. ele fumava flores pra sonhar com o mundo, um mundo melhor pra ele. pro mundo. ela plantava as flores. grávida de sonhos, regava os risos que ganhavam pra ficarem bem bonitos e conseguirem agradar quem os queria. rendia bem eu acho. bem que parecia ou poderia. ele clow. ela arlequim. se bem que assim sem nome eram melhor, mais gracejado eu acho. eram balés os dois. eram um escracho. ela bem felizinha. ele também mas mais pra baixo. ele sonhava tanto e tão azul. ela era amarela, e sonhava amour le par de jour. se completavam, eu acho. desejavam era a beleza... da vida, parecia.eu era pequeno, lembro bem pouco, mas ainda é mágico.

eram felizes, tinha certeza.

e viviam num colchão.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

minha esperança




feito a certeza do corpo anoitecido
minha esperança sonha
entre calma e inquieta, vaza pelo canto da palavra boca

repete um nome ainda vulto
e cisma a crer um riso novo de palhaço envelhecido

como se o mundo, feito carne sem matéria fosse,
envolve o vazio numa transparência arremessada
e explode um tudo-nada tão real (mas tão real)!
que não se crê.

minha esperança amanheceu completa e nua.

domingo, 17 de outubro de 2010

difícil flor




em constituida num imenso labor
se forma em outra em espécie
uma difícil flor

é música rupestre, carne repentina
mui lenta e morna é que acontece

medida orgânica, poema
madeira viva, amadurece

parece chama amanhecida
bruto amor que se oferece

sábado, 16 de outubro de 2010

banzo sideral



me permaneça em dialeto
e deixa-me te ouvir
na certeza das minhas dúvidas

enraize, se leve,
a urdidura do teu passo
se pesado, vem comigo
e voejemos lado a lado

livres de fato
livres do silêncio se esquecidos
cativos de algum banzo se lembrados

é sideral a substância do que sonho, filho!
mas abissal a tal medida do que falo

guarde, esse pedido feito prece
e sem altares, lhe desejo, in matéria

nos olhos, tenha em ti, o real... esse reflexo dos astros