terça-feira, 28 de abril de 2009

olhar braille




quem tem o lado de dentro alheio
faz de conta que não vê
?nem desmente que é cego quando escreve
pois que tanto faz de lerem a mim, amor
sou poeta de nascença e sentimento
mas sei, mais que ninguém, acredite
dizer dos teus olhos gazeados e sozinhos
e da falta que te fazem os meus dedos
deslizando sob as invisíveis cortinas
da tua frágil e delicada filosofia

12 comentários:

srta assis disse...

"quem tem o lado de dentro alheio"

Que quer dizer?

Como um sujeito pode saber que tem o "lado de dentro" alheio? Se ele sabe, não é tão alheio quanto parece.

Nem sequer possível que outra pessoa aponte isso, visto que é algo subjetivo: para outra pessoa apontar esse estado teria de saber coisas que nem o próprio sujeito sabe.

Como é que ele é alheio a si mesmo e sabe disso? Se ele é alheio a outras coisas ou pessoas tem de manifestar isso para que outras pessoas saibam e então aponte o fato.

Não creio que é possível, por exemplo, que eu saiba o que passa dentro da mente de um sujeito qualquer diante de um situação perigosa ou comovente (um filme, um assalto, uma declaração de amor, etc, etc...) sem que o sujeito expresse isso de algum modo: uma expressão ou um gesto físico, uma palavra.

???

abs

marden disse...

hahaha
Vê-se que suas conjecturas são bem intencionadas, Poly. Mas não sou literato e nem pretendo explicar o que escrevo aos leigos poeticamente falando. Que o façam os ensaistas de plantão ou alguém que tenha tempo e capacidade para tanto, rs.

Minha poesia já me basta inexplicável. Entende?

Ah e sugiro que leia com bastante atenção outros poemas. Talvez você como
graduanda possa desenvolver uma linha qualquer sobre "a inexplicável poesia controversa de Marden Assis", que me diz?

Ou ainda, se conseguir, pode se manter alheia a esse verso!

mary disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mary disse...

ui,
que mania de grandeza rapaz, a última vez que vi, ou melhor li, um vivo com pretensões de imortalidade foi o Pessoa. E levando em consideração formação, tempo de trabalho e profundidade da obra, acho que vais ter que trabalhar um pouquinho mais, neh?
Calma, ainda há tempo, talento, acredito que tenha, mas enfim, pra despertar interesse de ensaista vais precisar mais (nem me venha com espetáculo suicida que isso é clichê e não dá embasamento pra nada).
Risos, estou brincando um pouquinho contigo pq achei que foste maldoso com a moça que tem um razão sim senhor, O primeiro verso, traz julgamento de devir alheio.

beijo

marden disse...

Mary, acho que tem razão quando cita a formação, tempo de trabalho e profundidade da obra do grande Pessoa, apesar de não saber onde percebeu em mim a tal "pretenção de imortalidade".
E ainda quando sugere que precise de trabalhar mais para que... (peraí!) É exatamente isso que eu disse não pretender fazer; Me explicar. Minha poesia não se propõem a isso. Meus versos não trazem/fazem julgamento. Isso está em quem os lê. Leiam e "julguem" como quiserem. Ou não. Aliás, a poesia como eu a entendo serve como mecanismo libertário e simplesmente quis escrever que 'quem tem o lado de dentro alheio/faz de conta que não vê'... (já abri uma exceção, viu?) Hahaha

Não sei como se relaciona com a sua poesia, Mary. Se gosta de se explicar ou se almeja condicionar a sensibilidade de quem a lê. Por mim, esclareço, não me sujeito. Acho que tenho o lado de dentro alheio!

bj

srta assis disse...

"...nem pretendo explicar o que escrevo aos leigos poeticamente falando"... “É exatamente isso que eu disse não pretender fazer; Me explicar. Minha poesia não se propõem a isso. Meus versos não trazem/fazem julgamento.”

Que quer dizer com isso? Agora acredito que podes explicar, afinal de contas seu comentário não é um poema, ou seja, é passível de explicação.
Se quer dizer que não explica sua poesia para quem não sabe nada sobre poesia, ou seja, aos leigos - aqueles que além de não saber fazer poesia não sabe comentar/criticar/conjecturar, etc etc. - então ou você pressupõe a incapacidade de compreensão do interlocutor, ou é porque não sabes mesmo explicar, não tem nem idéia do que é seu próprio trabalho e portanto não tem capacidade para fazê-lo.

Se não se considera um leigo deveria ser honesto e explicar o que sabe aos leigos para que eles não permaneçam na posição de leigo.
Se você se considera um leigo, deveria ter humildade intelectual para pesquisar mais sobre aquilo que tanto gosta e bem sabe fazer intuitivamente. Sempre há algo para se aprender com quem estudou ou pesquisou mais. [Concordando com a Mary]

Na verdade penso que o que estás a sugerir é que poesia não é mais do que um amontoado de termos e expressões mais ou menos organizados sintática e semanticamente que designam emoções, sentimentos, fatos mas sem nenhum tipo de compromisso ou intenção.

Será isso mesmo (?), se for não seria melhor não escrever?
Não creio que os poetas concordariam com você, menos ainda os críticos de arte e literatos.

Mas vamos prosseguir.


"...sugiro que leia com bastante atenção outros poemas..."

Não sei porque deveria ler com ATENÇÃO algo que é escrito por pessoas que não se prestam a isso. Por pessoas descompromissadas. Seria o mesmo que assistir um show de rock feito por pessoas que não sabem nada sobre arte e música, não sabem tocar os instrumentos, não sabem cantar, nem têm certeza se gostam do que fazem, Querem mesmo é ocupar um lugar de destaque na sociedade ou passar o tempo de uma forma mais erudita (será???), de uma maneira mais nobre e importante. Isso, essas pessoas querem se sentir mais importantes do que os trabalhadores rurais ou os empresários capitalistas que não fazem nem apreciam arte.
Será essa a função da arte? Um sinalizador social? Teria a arte a mesma função que têm os relógios caros, só que com a pequena diferença de que é mais nobre quem lê Camões e anda de limousine? Ou, ainda que a pessoa ande à pé, é mais nobre e mais importante do que as pessoas que caminham e não lêem poesia nem filosofia?
Aha! Eureka!

A arte não é para ser explicada, é para ser exibida!
Uns exibem a bunda, outros exibem sua arte! Se tiver bunda e arte é ainda melhor!

srta assis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
srta assis disse...

“...Aliás, a poesia como eu a entendo serve como mecanismo libertário.”

Você parece se contradizer o tempo todo.

Há, e não digo contradição nos versos, pois isso sei que não é possível. Ninguém está disposto a investigar as contradições ou falsidades dos versos; pois não se pode formalizar logicamente um texto literário, nem analisar sua estrutura gramatical. Seria injusto com os literatos, poetas e escritores de qualquer tipo de ficção. Ninguém faz tal coisa, exceto certas pessoas que não 'demonstram nenhum tipo de interesse por poemas', mas querem importunar os poetas de plantão aqui na blogosfera.


Primeiro você compreende a poesia e até encontra uma função para ela, depois diz que não precisa compreender (ou seria explicar?) nem sequer que é possível apontar uma função para ela além das emoções que ela desperta no leitor.

Por fim, um outro ponto que não se refere diretamente a discussão do poema mas vou comentar assim mesmo.

“...Talvez você como graduanda possa desenvolver uma linha qualquer sobre "a inexplicável poesia controversa de Marden Assis", que me diz?"...


Considerar que o trabalho acadêmico pode advir de qualquer tolice, ou contrariamente, de que pode-se fazer qualquer tolice a partir de grandes obras é compreender mal o que fazem os “graduandos”.Defender a possibilidade de ensino de todo e qualquer aspecto da criação é um completo disparate.
Sinceramente, você é o não-acadêmico mais academicista que conheço. Acho isso mau, pois se para os acadêmicos já não fica bem se sentir superior e capaz de especular e conjecturar sobre tudo de tudo, para um não-acadêmico é ainda pior; pois como o academicismo é resultado da incompreensão das atividades acadêmicas o que pode se seguir dessa incompreensão é o preconceito e até mesmo o repúdio por quem faz parte desse meio e a falsa sensação de que é desnecessário frequentar uma academia.
(mais valeria a disposição e a boa vontade de pesquisar e questionar, o interesse por coisas que nem sempre é ensinado por lá...)
Enfim, os academicistas descartam a idéia de gênio, movido pela intuição e talento individuais, outra falácia já que é possível ser um bom artista, um bom historiador, um bom filósofo sem fazer parte de nenhuma instituição de ensino. O que se faz nas academias é aperfeiçoar as técnicas e métodos dos profissionais de qualquer área. E isso é crucial para quem não possui nenhum talento natural. É crucial para quem além de talento quer fazer uma trabalho melhor e quer ser reconhecido profissionalmente, quer trocar conhecimento – ensinar e aprender – e, acima de tudo, se inserir (felizmente ou infelizmente) no meio profissional e ser bem pago por seu trabalho.



“...Se gosta de se explicar ou se almeja condicionar a sensibilidade de quem a lê.”

Um “leigo” jornalista ou estudante de letras vai até Drummond questioná-lo sobre algum aspecto ou elemento de certo poema e ele diz que nada tem a dizer, pois, se disser algo – ou seja, se explicar seu poema – estará condicionando a sensibilidade d'ele, do leitor.
Também não compreendo como isso procede, nem se procede de fato.


O que Drummond queria realmente era postar seus poemas num blog onde pessoas tolas e sem interesse genuíno na sua obra fizesse comentários também tolos sobre o que sentiu ao ler, ou fizesse algum comentário desinteressado e sempre elogioso (e talvez, sem reflexão e análise) sobre o poema do dia. Acho que é isso que todo artista quer, sempre quis e quererá no futuro.



Abraços

marden disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
danúbia pessoa disse...

é! poucos lêem esse olhar.

srta assis disse...

Nem é preciso tanto para ter esse ou outro olhar.

Só interesse genuino.

Mas o que conta aqui é a erudição: quem mais lê poemas e quem melhor escreve tem direito de opinar ou de justificar sua falta de opinião; Ou então a capacidade para escrever comentários elogiosos e criativos.

O resto é meramente boa intenção leiga e ingênua... E ninguém me mostrou ainda qual o problema em ser uma "leiga bem intencionada".


Mas para que se preocupar com isso???

O que todos querem é mesmo se divertir, aparecer e dizer dispartes profundos e distintos.
Para quê levar tudo a sério?
Para quê levar algumas coisas a sério?

Para que levar a si próprio a sério?


desisto!


Não posso entender essas maneiras criativas de justificar a preguiça e o pessimismo. Na verdade conheço maneiras mais eficientes e interessantes!

Abraços!

mary disse...

Marden,
desculpe pela brincadeira, pelo visto, interpretei mal o seu comentário, e não o poema, que não me interessa muito entender (no sentido da razão). às vezes um passeio mental por imagens inusitas já me basta, outras, um caminho sonoro em um mar de palavras palatáveis, e em outras, poder ver a verdade guardada dentro do outro que ecoa em nós. enfim, concordo que poesia não precisa de apêndice, os parênteses ficam por conta do leitor ou dos ensaístas e foi justamente aí, "nos futuros" ensaios, ou seja, na idéia de "obra", que achei a sua síndrome egocêntrica muito comum nos poetas (mesmo!). o que é natural, mas arriscado(…)

já sobre a minha relação com a poesia… ih, já nem sei mais. é um relacionamento inconstante e temperamental.

outro dia li um da cecília e acho que fecha bem a conversa, inclusive, casa com o da àgua q vc postou outro dia.


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


De: MEIRELES, Cecília. "Viagem". Obra poética.


PS. só pego no seu pé, pq tenho achado (ou sentido) seus poemas muito tristes e quando se encontra alegria em poesia, ah,

PS2. a moça chama realmente poly neh, risos, acho que a bagunça começou aí. olha só, a maldosa sou eu (desculpa, sta assis, nada contra o seu nome, muito pelo contrário, temos o casamento de dois imortais, um em sobrenome, outro em citação, mas que pra mim ficou como sinônimo de alienação).

:-)

beijos aos dois