sexta-feira, 2 de maio de 2008


E agora, Drummond?


E agora já é!
a festa já era
tá tudo no escuro
ninguém aparece
faz frio aqui dentro
e agora já é!
e agora já é!

eu, que não tenho nome
que me envergonho também
e não rimo o amor
que não ( )
agora já era

tô aqui sem lugar
tô aqui sem falar
tô sem calma também
e nem posso escolher
e nem posso negar
aceitar já não posso

porque o dinheiro não veio
aquela carta não veio
e não veio a mulher
até meu verso sumiu

não rio mais
não choro mais
sentir já não sinto

tenho uma febre
que queima minha fé
que incendeia minha pele
e minha carne apodrece

febre d'alma
febre e sede
que seca por dentro
por fora
por todos os lados

não tenho mais chave
não tenho mais porta
mar, já não tenho
tinha há pouco a lagoa
- secou -
já não tenho mais rimas
Minas, não houve

não adianta gritar
não adianta gemer
nem dançar
nem beber
dormir já não posso
e aqui dentro do fosso
só há espaço pra baixo

me canso, me calo
me alimento sem dentes
dessa carne já morta

cercado de gente
de casas e burros
de bananeiras sem folhas
ia devagar
olhava devagar
e quase voltava
mas "voltar" já não há

encostado à parede
à parede sem porta
onde só uma criança
-feia e morta-
pergunta:
-"E agora, Drummond? Não me chamo José...
E nem tenho a resposta."

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanto pessimismo...

Mas são bons: a rima e a idéia!


E criança morta não fala!!
(haha - por favor, não me leve a sério agora)!


Um beijo!


srta assis