sexta-feira, 9 de março de 2012

marcha



de toda rédea que obedeci, homem-boi à porta de casa
nem mugido, nem grito ante o prenúcio sacrifício

besta muda paisagem a fora
marchamos aflitos, marcados de invisível semelhança

novidade estranha aos que se arriscam nas janelas
pisando pesadamente a vida, vamos sem comando
tangidos por não sei que berrante hipnótico
arrancamos sem aviso e determinados

as ruas antigas, acostumadas aos passos já humanizados
se aborrecem de monstrenga criatura a pisar-lhes as entranhas

comemos lembranças, flor, solidão e esse capim cinza da vida
porque nossa fome é a mesma, sempre foi
fome e vontade

o mundo é grande mas não há muito o que levar

nos cascos a quentura do chão, o barro, o pó, o peso d'um corpo
nas mãos a certeza esmagada e os dedos carentes
desacostumados desse gesto rendido a utopias
agora retorcem-se na angústia das lembranças

e vamos. colossais, grotescos, naturais, banzos
senão, quedos do cansaço, noturnos a beira da noite triste,
adormecemos de um sono bovino e morno
ruminando o dia pra recomeçar amanhã essa marcha da vida

7 comentários:

Lys Fernanda Rodrigues disse...

Belíssima poesia. (:

Tenha uma ótima semana!

Eliane F.C.Lima disse...

Marden,
Faço análise literária - amo literatura, seja dito - e ando sempre, lançando a minha rede/Rede, à cata de textos, bons textos - seja dito, também. Que bom ter chegado aqui! Ganhei o dia. A internet é mesmo um instrumento especial. Coloco seu endereço em "meus favoritos", para garantir que volto.
Eliane F.C.Lima (Blogues "Literatura em vida 2", "Poema Vivo" e "Conto-gotas")

Michelle disse...

acho que qualquer comentário feito seria pouco pro tanto que acabei de ler!

Michelle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gislaine disse...

Forte, real, triste, belo!

Hugo Vieira disse...

Gostei muito eu sigo-te!!!

Abraços

www.psicologiaearte.blogspot.com disse...

Bom e surpreendente encontrar, assim,meio ao acaso, poesia da melhor qualidade.
Vanessa